Marina Giuberti: a sommelier brasileira que brilha em Paris. Divvino!

Marina Giuberti -  A única brasileira com o título
Marina Giuberti – A única brasileira com o título Brevet Professionnel de l’Etat de Sommelerie

Capixaba de nascimento e carioca de coração, Marina Giuberti é atualmente a única brasileira a ter o  título de Brevet Professionnel de l’Etat de Sommelerie (BEP) – um dos mais difíceis de se alcançar na França. Na Europa há mais de 10 anos, Marina é hoje proprietária da Enoteca Divvino Paris, localizada no número 163 do Boulevard Voltaire,  no coração do 11ème, bem pertinho da tradicional Place de la Bastille.  Antes de realizar o sonho de ter a própria loja de vinhos, no entanto, Marina também estudou no Piemonte, na Itália, onde obteve o título de Master Food & Wine- ICIF. Além disso, trabalhou na cozinha de grandes restaurantes  como no italiano Le Calandre, em Pádua, (três estrelas no Guia Michelin) e no francês La Bigarrade (duas estrelas no Michelin), em Paris.  Também foi sommelier por cinco anos da Enoteca Le Carte des Vins, cujo sócio é M. Renaud Mommeja, da família Hermés.

Nessa entrevista, você vai conhecer um pouquinho mais dessa brasileira batalhadora, que além de ser comerciante de vinhos selecionadíssimos em Paris,  promove cursos sobre o assunto tanto para europeus como para os turistas brasileiros que lhe procuram ávidos por informações sobre o universo enológico. Afinal, como muito bem resume ‘nossa’ sommelier em Paris: “para se degustar bem é necessário estudar e se atualizar sempre”.

 Blog Vinho TintoVocê tem experiência enogastronômica em dois países super reconhecidos nesse assunto: Itália e França. O que esses dois países têm em comum quando o assunto é comida e vinho e o que têm de diferente?

Marina Giuberti – Nos dois países, vinho e gastronomia entram na cultura dos povos e em todas as classes sociais. Vinho e comida representam convivência, família, amigos reunidos, conversa, união e prazer. Nesses locais, a comida alimenta o corpo; e o vinho, a alma. O comum, portanto, seria o prazer. De diferente eu citaria os sabores. A culinária da Itália, pra mim que sou de origem italiana, é mais aconchegante. Quase tudo tem tomate e os vinhos também tem esse sabor, que eu diria, “mais mediterrâneo”.

Blog Vinho TintoMuitos vinhos franceses são reconhecidos internacionalmente. Você acredita realmente que na França estão localizados os melhores terroirs do mundo?

Marina Giuberti – Acredito, sim! O que os monges fizeram com os Climats (parcelas de terra precisamente delimitadas, que gozam de particulares condições geológicas e climáticas) da Borgonha, só existe ali. Só quem tem alma sensível e coração abertos, pode entender o que estou falando. Já chorei de emoção ao degustar alguns vinhos que de tão especiais me emocionaram. A França reina hors concours no quesito qualidade, simplesmente porque os franceses têm um art de vivre e um paladar refinado e elegante, e isso vem desde o berço. Veja bem, meus filhos (gêmeos) nasceram em Paris e já na creche desfrutam de um menu equilibrado, preparado por um chef e um nutricionista. Com apenas dois anos de idade, eles degustam um queijo diferente a cada dia …É assim que se constrói a “cultura gustativa” de um povo.

Vinhoes de artesão
“Trabalho com pessoas que amam seu Terroir e expressam isso em forma de vinhos excepcionais”

Blog Vinho TintoHoje você tem sua própria loja de vinho em Paris. Que tipos de vinhos você comercializa, por que essa opção e qual seu principal cliente?

Marina Giuberti – Sempre quis ter minha própria cave, pra ter liberdade de escolha e hoje trabalho essencialmente com produtores artesãos, ou seja, com pessoas que amam seu Terroir e expressam isso em forma de vinhos excepcionais.  A maioria desses produtores, inclusive, é orgânico ou natural. A maior parte do meu público são os clientes do bairro, aqui mesmo do 11 Éme. Mas a cada vez mais recebemos turistas brasileiros, que nos visitam em busca dos nossos cursos de vinhos e para ouvir nossos conselhos sobre o que comprar ou degustar.

 Blog Vinho Tinto – Quais as maiores dificuldades para se manter uma loja de vinhos em Paris nos dias de hoje?

Marina Giuberti – Uma enoteca em Paris tem muita concorrência. Na verdade, nós aqui na Divvino, trabalhamos com paixão, abrindo todos os dias, propondo degustações diárias e convidando vinhateiros semanalmente para apresentações e degustações de seus produtos. Os cursos de vinho são realizados duas vezes por semana. Também possuímos uma vasta seleção de rótulos – mais de 900 referências de produtores muito especiais, como Philippe Pacalet, Georges Laval e Egly Ouriet na Borgonha, Antoine Atena na Córsega,etc..

Na Enoteca Divvino Paris, Marina Giuberti vende vinhos selecionadíssimos e ministra cursos especiais
Na Enoteca Divvino Paris, Marina Giuberti vende vinhos selecionadíssimos e ministra cursos especiais

Blog Vinho Tinto – Você também ministra cursos de vinhos especialmente para turistas brasileiros. Como surgiu essa ideia?

Marina Giubertti – Os cursos para brasileiros surgiram com a necessidade de dividir as informações para o público, foi algo natural. Primeiro veio um grupo, depois outro…Enfim…Para se degustar bem é necessário estudar e se atualizar sempre.

Blog Vinho Tinto – Como funciona o seu curso e qual o grande diferencial dele no seu ponto de vista?

Marina Giuberti – O diferencial dos meus cursos é a sensibilidade e a paixão como são feitos. Todos os cursos são um pouco diferentes entre si, pois costumo sentir as pessoas presentes no momento para explicar melhor. Abordo informações gerais sobre as uvas, regiões, aromas, mas sempre com muita sensibilidade. Além disso, friso muito a questão de entender e descobrir o prazer próprio.

Divvino Paris - Aberto diariamente na
Divvino Paris – Aberto diariamente no coração do 11ème

 Blog Vinho Tinto – Agora uma pergunta pessoal: é difícil ser uma sommelier brasileira na Europa? Quais os maiores obstáculos enfrentados na sua carreira?

Marina Giuberti – É mais difícil ser mulher na profissão do que ter nacionalidade brasileira. O fato de ser do Brasil, na verdade, me abre portas. Os europeus amam o Brasil e sempre ficam curiosos sobre minha trajetória. Desde a época da escola, no Piemonte (Itália), ou mesmo aqui na França, me dediquei muito (era o tipo de aluna que alguns pensavam que era o professor quando falava… rsss). Aliás, eu sempre fui ponte entre alunos e professores, pois pelo fato de eu falar várias línguas  acabo virando “a tradutora do  grupo”. Enfim, mas o que quero dizer é que qualquer preconceito é vencido com conhecimento e talento .

Blog Vinho Tinto – Com relação à produção de vinhos no Brasil, o que você acha de nossos produtos? Destaca algum em especial?

Marina Giuberti – Acho que a produção nacional -brasileira, está melhorando muito . Recentemente provei o Fulvia, do Marco Danielli e tive um grande momento, ESPETACULAR! Também gostei muito do Merlot da família Vicari.

Para Marina, a harmonização é um assunto importante que deve ser respeitado sempre.
Para Marina, a harmonização é um assunto importante que deve ser respeitado sempre.

 Blog Vinho Tinto – Com sua experiência de Chef de Cozinha e de Sommelier como você encara o assunto “Harmonização”?

Marina Giuberti – No Brasil as pessoas falam pouco de harmonização. Uma pena…Recentemente degustei um Barca velha 1966, com brasileiros num restaurante. Eles pediram um carpaccio de polvo, cheguei a ter uma ” fisgada no coração ” pelo vinho , pela falta de sensibilidade para harmonizar. Aqui na Europa, em alguns estabelecimentos, pode-se recusar de não servir uma bebida caso ela não harmonize com o prato, eu mesma já presenciei isso acontecer. Se antigamente eu achava exagero, hoje não acho mais. É, na verdade, um grande serviço que o “patrão” está fazendo ao seu cliente que não sabe harmonizar. Harmonização é casamento! Se você souber fazer, tudo fica em harmonia e, tanto o prato quanto o vinho, crescem com isso e seu prazer agradece .

 Blog Vinho Tinto – Pra finalizar, que tal uma dica de harmonização perfeita (baseada em sua experiência prática) tanto de pratos franceses e italianos com vinhos franceses e italianos respectivamente?

Marina Giuberti – Aqui na França um Chassagne Montrachet branco com vieiras grelhadas, com manteiga de yuzu e Mini legumes. E na Itália, um Barbaresco do Roagna com um Tartare piemontês com trufas frescas .

Assista abaixo a pequena entrevista que o André Branco, meu amigo e “enviado especial do Blog Vinho Tinto” –  fez com a Marina diretamente na Divvino Paris em março deste ano.

https://www.youtube.com/watch?v=PkeSorrVzKY

 

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Quem Sou

Sou jornalista especialista em vinhos e em comunicação digital. Sou sommelier Fisar e diretora da Associação Brasileira de Sommeliers do DF. Possuo qualificação Nível 3 (Wine Spirit Education Trust) e o Intermediário do ISG. Também tenho certificado em vinhos franceses (FWS) e vinhos californianos (CWAS).

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